quinta-feira, 23 de junho de 2011

Crianças Selvagens


Crianças Selvagens

As crianças selvagens são crianças que cresceram com contacto humano mínimo, ou mesmo nenhum. Podem ter sido criadas por animais (frequentemente lobos) ou, de alguma maneira, terem sobrevivido sozinhas. Normalmente, são perdidas, roubadas ou abandonadas na infância e, depois, anos mais tarde, descobertas, capturadas e recolhidas  entre os humanos.
Os casos que se conhecem de crianças selvagens revestem-se de grande interesse científico. Elas constituem uma espécie de grau zero do desenvolvimento humano, ensinam-nos o que seríamos sem os outros, mostram de forma abrupta a fragilidade da nossa animalidade, revelam a raiz precária da nossa vida humana.
Em termos de linguagem, as crianças selvagens só conhecem a mímica e os sons animais, especialmente os das suas famílias de acolhimento. A sua capacidade para aprender uma língua no seu regresso à sociedade humana é muito variada. Algumas nunca aprendem a falar, outras aprendem algumas palavras, outras ainda aprenderam a falar correctamente o que provavelmente indicia que tinham aprendido a falar antes do isolamento. Em termos de comportamento, as crianças selvagens exibem o comportamento social das suas famílias adoptivas.  Não gostam em geral de usar roupa e alimentam-se, bebem e comem tal como um animal o faria. A maioria das crianças selvagens não gostam da companhia humana e percorrem longas distâncias para a evitar. Algumas crianças selvagens não mostram interesse algum noutras crianças da sua idade nem nos jogos que estas jogam. Na medida em que não gostam da companhia humana, procuram a companhia dos animais, particularmente dos animais semelhantes à espécie dos seus pais adoptivos. Ao mesmo tempo, também os animais reconhecem estas crianças, aproximando-se delas como não o fariam em relação a outros humanos.
As crianças selvagens não se riem ou choram, apesar de eventualmente poderem desenvolver alguma ligação afectiva. Manifestam pouco ou nenhum controlo emocional e, muitas vezes, têm ataques de raiva podendo então exibir uma força particular e um comportamento claramente selvagem. Algumas crianças têm ataques de ferocidade ocasionais, mordendo ou arranhando outros ou até eles mesmo.




Os casos de Genie e Victor:

Genie

Genie é o pseudónimo pelo qual ficou conhecida Susan M. Wiley. Genie nasceu em 18 de Abril de 1957 e viveu os seus primeiros treze anos em total isolamento da sociedade. Foi descoberta pelas autoridades no dia 4 de Novembro de 1970 em Los Angeles, Estados Unidos da América.
Quando foi descoberta, Genie desconhecia a linguagem e obteve um desempenho equivalente ao de uma criança de quinze meses de idade num teste cognitivo não-verbal. Genie foi o quarto filho de uma casal problemático, Irene e Clark Wiley. A sua mãe era parcialmente cega devido a uma catarata um descolamento da retina. O seu pai sofria de depressões constantes e apresentava desequilíbrio mental. Dois dos filhos do casal morreram e outro vivia juntamente com os seus pais e irmã. Com a idade de vinte meses, quando Genie iria começar a aprender a falar, um médico anunciou que esta seria "lenta", provavelmente sofreria de um retardamento mental. O pai de Genie levou este diagnóstico ao extremo e, com o intuito de protegê-la, privou-a de todo contacto com a sociedade.
Genie passava os dias presa a um pote e, à noite, quando não era esquecida ali, era colocada num berço fechado com barras de aço. Sempre que tentava falar, segundo aquilo que foi apurado pelos técnicos que acompanharam Genie depois de ter sido "resgatada", o seu pai batia-lhe e proibia qualquer um de lhe dirigir a palavra. Durante este período, Genie ficou presa sem manter qualquer contacto linguístico com quem quer que fosse. Genie tornou-se praticamente muda, sendo capaz de pronunciar apenas algumas palavras como stopit e nomore.

Victor, o menino de Aveyron

Victor de Aveyron foi uma criança selvagem que foi encontrado em França, em 1798, tendo sido adoptado então pelo educador francês Jean-Marc-Gaspard Itard. O cineasta francês François Truffaut realizou o filme "L'Enfant Sauvage", baseando-se nos relatos de Jean Marc Gaspard Itard.
Em Setembro de 1799, um menino com cerca de 12 anos foi encontrado perto da floresta de Aveyron, sul da França. Estava sozinho, sem roupa, deslocava-se utilizando quatro apoios e não falava uma palavra. Aparentemente, fora abandonado pelos pais e cresceu sozinho na floresta. O menino, a quem lhe deram o nome de Victor, foi levado para Paris, onde ficou aos cuidados do médico Jean-Marc-Gaspar Itard. Durante cinco anos o Dr. Itard dedicou-se a ensinar Victor a falar, a ler e a  comportar-se como um ser humano, mas os seus esforços foram em vão. Pouco progresso foi conseguido durante esse tempo. Victor nunca falou e apenas aprendeu a ler somente uma palavra (leite).



Nenhum comentário:

Postar um comentário